domingo, 19 de março de 2017

Opinião #2 | Quem governaria melhor: um Humano imperfeito ou um Robô perfeito?

    Certamente que todos nós nos questionamos sobre o papel do Robô no nosso mundo e na nossa realidade. A verdade é que, por mais estranho que o conceito possa parecer, até que ponto seria bom (ou não) termos um Robô a governar?

    A verdade é que este é um assunto muito subjetivo que, como a escolha de um partido político, depende de pessoa para pessoa. Todavia, já todos nós devemos ter pensado como seria viver num mundo governado por um Robô, correto? Atendendo às capacidades de QI do Homem e aos circuitos da máquina, poderemos certamente perceber que estamos muito longe da perfeição´~ao, enquanto que os Robôs estão extremamente perto, contudo, estar perto da perfeição será o suficiente para governar? Nesta edição do quadro Opinião eu tentei debruçar-me sobre estes assuntos.

    Então, quem governaria melhor: um Homem ou um Robô? Antes de começar, gostaria só de lembrar que este é somente um ponto de vista, que não tem necessariamente de ser o meu o o vosso.

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        Nos dias correntes, quando se vai a um café ou, até mesmo, numa conversa entre amigos, é comum ouvirmos as pessoas a tecerem críticas aos políticos e ao seu trabalho, atacando-os pelo mínimo deslize e de forma indevida. De facto, talvez não esteja a exagerar se disser que uma grande parte da nação não gosta (ou, talvez, a palavra mais adequada seja não simpatiza) com os atuais políticos. Caro leitor, sabe aquelas pessoas que, para se entreterem, mandam coisas para o ar? No outro dia, quando ia a entrar no café, ouvi um careca exclamar: “Sabem do que é que o país precisava? Precisava que se começasse a fazer bom uso dessas novas tecnologias e que se investisse num Robô!”. “Num Robô?!”, exclamou o companheiro a rir? “Sim”, afirmou o primeiro entusiasmadamente “num Robô! Podíamos programá-lo para governar. Assim, teríamos um politico que, garantidamente, faria a coisa séria e não seria corrupto!” Depois disto, desliguei-me da conversa dos indivíduos e comecei a pensar, para mim mesmo, se um Robô a governar seria, realmente, uma boa ideia.
            Antes de mais, precisamos de o esclarecer, caro leitor, sobre este peculiar conceito de por um Robô a governar. Como este é programado pelo homem, bastaria programá-lo acerca de como reagir a certas situações e pôr no seu hardware o que está, ou não, certo. Além do mais, seria, desta maneira, possível terminar com a corrupção e a manipulação. Por outras palavras, seria recriar Deus. Sem qualquer dúvida que este novo conceito é revolucionário, mas seria, de facto, assim tão bom?
                Sem dúvida, esta ideia, tem imensas partes positivas. Dizer o contrário seria, certamente, mentir. Contudo, será assim tão positiva? Sinceramente, não tenho fé neste novo conceito. Não se esqueça, caro leitor, que os hardwares dos Robôs utilizam o código binário, ou seja, resumem-se a zeros e uns. Por outras palavras, não haveria um meio termo, seria tudo branco ou preto. Ele iria tomar uma decisão tendo como base o que tinha nos circuitos, ao invés de tentar adaptar a decisão à situação. Por esta ordem de ideias, o Robô, como apenas seria capaz de tomar decisões conforme a sua base de dados, iria ser completamente incapaz de lidar com novas situações, isto sem referir que também não conseguiria ser capaz de compreender os sentimentos ou tomar decisões lógicas tendo-os em conta. Não acredita em mim, caro leitor? Então atente no exemplo: há três pessoas numa sala de espera para um transplante de coração, contudo, os médicos, somente conseguiram arranjar dois corações, ou seja, uma das três irá morrer. Admita que ambas as pessoas têm a mesma idade e o mesmo estado de saúde. Deste modo, sem critérios para escolher a pessoa que irá morrer, o que iria o Androide fazer? Simples. Para não injustiçar ninguém, ele iria certamente trabalhar continuamente sem tomar uma decisão, deixando que todos morressem. Seria esta a decisão do Homem? Claro que não! Ele iria usar um método de escolha. Logicamente, haveria alguma injustiça para quem fosse destinado a morrer e, por mais viciada que a votação fosse, não seria melhor a deixar três pessoas morrer? Desta maneira, até a imperfeição do homem seria preferível do que a perfeição do Robô. A verdade é que estas realidades constituem um grande entrave a esta nova ideia. Já ao contrário dele, o Homem (caro leitor, ao longo deste texto irei usar inúmeras vezes a palavra homem, contudo, quando o digo, refiro-me a homens e a mulheres) é, no entanto, capaz de avaliar situações novas, como demonstrei no exemplo. Como vimos, este novo conceito, tem diversos limites. Isto para não dizer que o Robô não conseguiria agradar a todas as classes sociais, o que poderia originar uma revolta. Como disse anteriormente, ele reagiria conforme os circuitos o obrigassem, então faria sempre a mesma coisa. O mundo, desta maneira, iria ser trancado num circulo monótono. Por fim, apesar do caracter hipotético desta situação, gostaria só de referir que o Homem, como ser imperfeito, seria, pura e simplesmente, incapaz de criar um ser perfeito. Tenha em consideração que quando digo que o Homem não consegue, não quero dizer que seja incapaz. Quero somente dizer que é impossível um ser imperfeito criar um perfeito.
                Caro leitor, muito possivelmente, neste preciso momento está, na sua cabeça, a formular teses que vão de encontro com a minha, certo? Ainda mal. A fim de evitar equívocos e defender o meu ponto de vista, enumerei algumas das possíveis objeções que, muito provavelmente, neste preciso momento, me está a fazer, com o intuito de as responder de seguida. Decerto que a primeira objeção em que pensou foi algo do género: “Mas porque é que não criamos uma inteligência artificial?”, certo? Pois, pelos vistos, adivinhei de novo. Apesar dessa objeção resolver quase todos os problemas na integra, selecionei mais algumas. Em relação aos problemas das novas situações e à incapacidade de compreender os nossos sentimentos, provavelmente serão menosprezados e “resolvidos temporariamente” através de sistemas de atualizações continuas. Quanto ao que disse a respeito da monotonia, possivelmente, você, caro leitor, por e simplesmente começou a rir e disse: “E qual é o problema disso? O objetivo não é obter a justiça? Não importa se arranjamos mil e uma maneiras de o fazer ou apenas uma. O que interessa é, somente, o resultado final!”. Em relação às últimas frases do meu segundo parágrafo, talvez, a sua contraposição seja: “Isso é mentira! O Homem, apesar de imperfeito, já criou um ser perfeito: Deus! (do ponto de vista do Ateu!). Ambas são reflexões muito importantes, então, sem perder mais tempo, vou responder-lhe.
                Antes de começar a responder, queria, primeiramente, avisá-lo que tomei a liberdade de responder, por último, à primeira objeção. Quanto à ideia de criar um sistema de constantes atualizações, para mim, é ilógica e tudo menos prático, pois não vai resolver o problema. Ao invés disso, irá, apenas, continuamente adiá-lo, pois irão aparecer sempre situações novas e incógnitas. Além do mais, fazer atualizações onde dizemos como é que o Robô deve agir, faz com que as decisões sejam tomadas por nós. De facto, quer queiramos ou não, como somos nós que o programamos e, ao programar, obrigamo-lo a tomar a atitude correta (segundo o ponto de vista do Homem, uma pessoa imperfeita) para cada situação faz com que, no fundo, seja o Homem a tomar as decisões, ao invés do Androide. Usemos um exemplo do dia a dia: uma Professora pede aos Alunos que entreguem um recado aos pais com data da reunião. Quem pede o favor é a Professora (que simboliza os Homens que fizeram o Robô) e não os Alunos (que simbolizam Robô). Assim, os Alunos, tal como o Robô, são os transmissores da informação, não os seus criadores. Espero, através deste exemplo, ter conseguido expor o meu ponto de vista. Além do mais, um monte de metal, que funciona à base de zeros e uns, nunca conseguiria entender e pesar corretamente os sentimentos humanos na sua decisão. É verdade que alguns Robôs já estão a ser programados nessa área e, possivelmente, daqui a alguns anos, será possível usar um algoritmo que possibilite uma escolha lógica com sentimentos. Contudo, o Homem é um ser impulsivo, ele age, ao contrário do que acha, quase sempre, pelo que está certo. Não acredita em mim? Então atente nos exemplos: 1). Decerto que, quando andou na escola já algum professor cometeu algum tipo de injustiça para algum dos seus colegas e este reclamou. 2) Pressuponha que numa discussão desportiva entre dois pacíficos colegas o Aluno A diz, acidentalmente, sem notar, algo que magoa o Aluno B, que, com a consciência ferida, também ataca o Aluno A, que, por sua vez, também o contra-ataca, só que, desta vez, de propósito. A discussão irá, então, continuar até que um, impulsivamente, agrida fisicamente o outro. Em ambas as situações, alguém age mal e censuravelmente. De facto, posso afirmar que ambos agem movidos por sentimentos. No primeiro caso, o Aluno age por Injustiça, enquanto que no segundo, um dos dois Alunos age por ter sido magoado pelo comentário do outro. Agora que testemunhamos a importância dos sentimentos no homem, poderemos mesmo dizer que um Robô poderia ser justo nesta área? Não me parece, de todo!
                Em relação à objeção que toca à monotonia, eu até posso, mais ou menos, concordar, se o resultado fosse bom, o que, muito raramente, acontece. Aliás, quanto mais comum é uma decisão, maior a sua imperfeição. No fim das contas, quanto mais se usa a mesma coisa, mais fácil é passar-lhe por cima. Por exemplo, admita que saiu um novo formato de DVD, cuja probabilidade de ser pirateado é muito baixa. Como todas as empresas gostam do produto, os DVDs passaram a usar esse formato. Como em tudo, é apenas uma questão de tempo até que a barreira seja ultrapassada, isto é, até que um pirata informático consiga piratear o DVD e diga como é que o faz nas redes sociais. Nessa altura, como todos possuem DVDs com esse formato, a segurança contra pirataria, de excelente, passa a ser péssima. Espero ter, assim, conseguido mostrar que se devem tomar decisões diferentes, coisa que o Homem consegue fazer (talvez até bem de mais…). Agora, foquemo-nos na objeção em que o Homem criou uma criatura perfeita: Deus. Esta é, claramente, uma critica de quem não crê em Deus, de quem diz que o Homem criou uma entidade que o obriga a seguir certos padrões morais e que o guia. Acontece que esta afirmação não faz sentido, pois, segundo essas teorias, Deus não nada é mais que um símbolo. Se formos ver, o Homem terá criado a imagem de Deus, não Deus mítico. Então, mais uma vez, afirmo: é impossível um ser imperfeito criar um ser perfeito. Em 1516, foi publicado, por Thomas More, um livro chamado Utopia. Nele, o autor tentou escrever como seria uma sociedade perfeita, uma cidade em que todas as casas eram iguais com um bom sistema político. O livro é interessante e assemelha-se ao nosso tema, já que estamos a debater acerca de um Robô perfeito. O objeto perfeito em estudo não é o mesmo, mas a conclusão coincide, pois, no fim do livro, o autor chegou a uma única conclusão: conseguir algo perfeito é impraticável. Provo, assim, que não temos de nos preocupar em ter um Robô perfeito a governar, todavia, uma questão de carater hipotético, como esta, não pode ser atacada por este tipo de argumentos, pois se é uma questão hipotética, não interessam as probabilidades de, realmente, acontecer. Então, vou, finalmente, responder à primeira objeção, à objeção que, muito provavelmente, faria com que todos os defeitos dos Robôs desaparecessem: criar uma inteligência artificial!
Uma inteligência artificial não dependeria de um código humano e, talvez, pudesse dar o devido peso aos sentimentos humanos, então não teria os mesmos erros do que um Robô, não teria os seus limites, nem precisaria de ser atualizada. Como veria os factos e o que funcionou, ou não, na história, poderia ajudar, realmente, a humanidade. E o melhor? O Homem está a meros anos de criar uma. De facto, seria uma boa ideia e, se Thomas More fosse vivo, talvez refizesse o seu livro. Contudo, como disse, “seria uma ótima ideia”, pois, logicamente, não poderia ser mais do que isso. Neste ponto, você, caro leitor, deve estar a perguntar-se “E por quê?”, certo? Muito simples. Num mundo em que tudo, inclusive armas que podem acabar com a humanidade (como, por exemplo, a Bomba atómica e a Bomba H), é controlado através de computadores, não me parece, no mínimo, uma ideia sustentável criar algo que pode controlar tudo. Imagine que a tal inteligência artificial se humaniza, isto é, se começa a ganhar algo parecido com sentimentos e emoções. Até este ponto, não há propriamente nenhum problema, expecto o “irrelevante” pormenor de se ter tornado uma de nós. Isto é, agora que tinha os mesmos sentimentos do homem, tinha passado de um ser quase-perfeito a um ser perfeito. A sua quase-perfeição tinha sido a causa da sua perfeição. Uma vez que se tinha tornado como nós, o que é que a impede de fazer o que quiser? Absolutamente nada. Num mundo eletrónico, como o nosso, seria o fim.
É, pelos motivos anteriormente escritos, caro leitor, que, na minha modesta opinião, um Homem, apesar de imperfeito, governaria o mundo melhor do que um Robô perfeito. Além do mais, como vimos, não existem Robôs perfeitos e, ás vezes, a perfeição pode ser sinónimo de imperfeição.

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