domingo, 20 de novembro de 2016

Lendas | D. Ramiro (ou de Gaia)

    Grande parte dos brasões das cidades remetem para antigas lendas. Umas verossímeis, outras não.

    A cidade de Viseu não foge à tradição, sendo que o seu brasão remete à lenda de um monarca cristão que quase perdeu tudo, inclusive a liberdade, por uma rapariga muçulmana. Este conto relata as aventuras e desventuras de um rei que, ao conseguir a pessoa a quem o seu coração pertencia, perdeu a esposa.

    Caso esteja interessado na lenda, continue a ler esta publicação.


    Inúmeros são os brasões das cidades que remetem para lendas em tempos longínquos. Viseu não foge à tradição. O seu brasão remete para uma lenda onde, segundo ela, muitos anos antes, lá teria vivido o rei D. Ramiro II. O monarca, segundo se conta, governou, entre 931 e 950, as Astúrias e Leão e Castela. Um dia, Sua Excelência, quando saiu de Viseu, local onde residia, numa excursão por terras mouras, encontrou um rapariga por quem, rapidamente, se apaixonou e começou a namorar.

    Contudo, a encantadora moça, não se tratava de uma "musa" qualquer. Era, na verdade, Sara, irmã de Alboazar, emir do Castelo de Gaia.

    Completamente apaixonado pela deslumbrante moura, D. Ramiro rapta-a. Assim que soube deste ato, Alboazar, por sua vez, raptou a esposa de D. Ramiro II, D. Urraca. Ficando com o ego ferido, o monarca recruta alguns homens de Viseu para o ajudarem a recuperar a mulher.

    Uns dias depois, após terem traçado um plano, D. Ramiro II, esperou que Alboazar fosse para a caça. Assim que este saiu do castelo, o monarca vingativo entrou sorrateiramente pelas traseiras do palácio. Após um longo período de buscas, finalmente encontrou a sua mulher, D. Urraca.

    Esta estava, todavia, a par da traição do marido e, não só se recusou a ir embora, como também o denunciou a Alboazar, que, entretanto, tinha retornado da caça. Apanhado desprevenido pelo ato da mulher, D. Ramiro não conseguiu fugir a tempo, sendo capturado. Fora assim que o rei cristão perdera tudo, inclusive a própria liberdade.

    Como era prática na época, D. Ramiro fora sentenciado à morte. Quando, antes de o matar, o inquiriram sobre o seu desejo final, este pediu para tocar a sua buzina, pois queria que fosse o último som a ser ouvido no mundo terreno. Como o pedido não ostentava nada de perigoso, fora-lhe devolvida a buzina para a tocar uma última vez.

    O que minguem sabia era que o monarca tinha um último truque na manga. O leitor certamente reparou que não foi referido qual o papel a ser desempenhado pelos homens recrutados em Viseu, certo? Pois bem, eles estavam escondidos na cidade moura, com ordens para atacar após o sexto toque da buzina.

    E assim foi. Quando D. Ramiro tocou a sua buzina pela sexta vez, os seus homens cercaram o castelo mouro, incendiaram-no e mataram Alboazar.

    Num barco, de volta a Leão e Castela, irritado por ver a mulher, que também o traíra, a chorar pela morte do muçulmano, ao invés de lhe agradecer pelo resgate, atou-lhe uma pedra ao pescoço e atirou-a para o mar. Quando, finalmente, chegou a casa, casou-se com Artiga, a outrora jovem muçulmana chamada Sara, que entretanto se tornara Cristã.



    Esta foi uma edição do quadro Lendas. Caso tenha gostado desta lenda e queira ler mais, clique aqui.

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